sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Café

Abro a geladeira e passo alguns segundos decidindo o que vou comer, o que não vou comer e o que já deveria ter sido jogado fora. A voz dela sugere: ‘Leite, pão, ovo e laranja’; eu olho pra trás e constato sua translúcida e flutuante figura.

‘Oi vó’
‘Oi filho’.

Pego pizza gelada mais a coca-cola e boto na mesa. Ela reclama e reclama e eu não faço nada. Ela repreende e fala tudo aquilo que:
Eu devia me cuidar, correr na rua, alface e chicória no almoço e pro diabo com toda aquela cerveja.

Ela puxa um cigarro, acende e traga.
Isso não vai me matar duas vezes. Nem da primeira foi isso, foram meus pulmões asmáticos, explica. Eu não tiro o olhar dela e ela sorri. Quer ver como é que funciona?, e não me deixa responder. Ela põe a mão debaixo do seio (firme) e levanta a pele e os ossos e eu vejo aquela bomba metálica e os dois balões de festa cheios de algum gás leve pra que ela flutue. A bomba metálica se mexe bum, bash e pára de novo.
Ela solta a fumaça pro alto e eu presto atenção na minha comida. Tomo minha coca e só a calabresa da pizza. Guardo o resto e ela continua falando.

Daí eu me limpo, pego minhas coisas e faço tudo o aquilo que não