(Para a menina de fogo nas idéias)
“Houve sempre duas vidas distintas: aquela que eu tinha e a que eu gostaria de ter. Havia também os momentos em que as duas eram como uma: aqueles sonhos nos quais só às vezes eu podia voar, aquele pai noel ouvindo histórias de uma criança que era qualquer coisa menos eu e parecia acreditar –no que havia uma justiça cavalheira, que eu também acreditava nele e ele não.
Houve também momentos em que uma era de fato a outra, ou, ao menos, assim ainda me parecem. Momentos tais que, injustiça divina (?), passam; passando e fazendo crer que a vida tem muito de tragédia grega e de um humor pastelão da pior espécie.
Ela foi um desses momentos.
Ela me achava genuinamente interessante, como se eu tivesse sempre algo que dizer, e naquela época, talvez, tivesse, ou achava que tinha, ou.
Ela: era diferente, única -igual toda mulher. Moderninha e antiquada, era uma insensatez divertida: meio sacana, meio naif, como se parte envelhecesse e outra não.
Apaixonava dia sim, dia não. (Ela, não eu. Eu ainda me levava muito a sério.) E foi que um dia, acho, apaixonou por mim –anos ingratos, que eu cria Amor, como fim e não meio. Eu, sisudo nos meus chistes, pensava três vezes antes de não fazer nada. Eu, seguro pela inação, só entendi tudo quinze minutos tarde demais: eu fui dia sim e dia não, noutro dia eu já não era mais nada.
Precisamente naquele dia ela era tudo. No outro também e no outro e noutro. Eu, patético e apaixonado, trágico e atrasado. Foi um timing ruim, é sempre um timing ruim. Uma morte sem culpados, um genuíno acidente: eu doendo uma paixão, ela sensata demais pra me levar a sério.
E foi assim muito tempo até que não dói mais.”
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Uma fábula moderna de personagens esquisitos e sem uma clara lição de moral no fim VII
(Pra uma argentina)
“‘Eu quero isso, palavras aqui e ali, tudo em ordem. Sexo também é bom, sem essa coisa de selvageria, sem pressa, quase sem vontade, quero um amor que não sofre, não chora, não arde: um amor assim... insensível?, não, um amor tangível: que é honesto assim: o que se diz, o que se faz: é o que é, um amor sem grandes-coisa, um amor porto-seguro, que tudo que resta é incerto demais, e claro que esse amor não existe, que é miragem, alucinação de sede e fome, daí ser você, assim impossível, indo embora cedo só porque tem mesmo de ir’, eu quis dizer e não disse.
E ela levantou e foi embora, ‘Porque estou atrasada’, foi o que ela falou um português ruim enquanto me beijava a testa e ia embora para sempre (?).”
“‘Eu quero isso, palavras aqui e ali, tudo em ordem. Sexo também é bom, sem essa coisa de selvageria, sem pressa, quase sem vontade, quero um amor que não sofre, não chora, não arde: um amor assim... insensível?, não, um amor tangível: que é honesto assim: o que se diz, o que se faz: é o que é, um amor sem grandes-coisa, um amor porto-seguro, que tudo que resta é incerto demais, e claro que esse amor não existe, que é miragem, alucinação de sede e fome, daí ser você, assim impossível, indo embora cedo só porque tem mesmo de ir’, eu quis dizer e não disse.
E ela levantou e foi embora, ‘Porque estou atrasada’, foi o que ela falou um português ruim enquanto me beijava a testa e ia embora para sempre (?).”
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