quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Auto-análise

Outro dia li meu último texto. O anterior a esse e o outro também. Li também o meu primeiro. Interessante: uma perspectiva literária de mim por mim. Uma melhora clara no texto, em estilo, vocabulário. Maturidade principalmente. Isso é nada mais que óbvio, considerando os cinco anos que me separam de minha primogênita criação –e cinco anos quando se tem quinze e depois vinte são uma vida inteira.
Mas o que me chamou atenção, digo, o que era gritante e saltava do texto para os meus olhos era que eu escrevia desde o princípio sobre a mesma coisa. Todos os meus textos me soam como uma replicação daquele primeiro, aquele primeiro poema, onde os versos sequer eram livres, aquelas parcas dezesseis linhas dizem tanto quanto posso dizer quem sabe até o fim da vida.
Ora, pensas tu, exagero! Não é. Em nuances e diferentes formas, em contos ou poesias ou crônicas ou o quer que o valha, leio sempre a mesma coisa, a mesma idéia, o mesmo adolescente encantado com um romance malfadado por sua natureza platônica. Encantado com amar por amar, como só dizemos na primeira vez.
E se não a tivesse amado? E se, no momento crucial, dissesse a mim mesmo, que não me valeria (como de fato, nada me valeu). Por que há um momento em que decidimos, um momento racional, e nesse instante perguntamos: amo ou não amo? E a resposta, e tanto faz se uma ou outra, é acolhida incondicionalmente, como lei natural.
E se não a tivesse amado? E se dissesse não –supondo que pudesse dizer não, não creio- sobre o que escreveria? E
screveria esse texto? Ou, por outra, não escreveria, nem verso nem linha. Nem uma só palavra sobre ela. Nem uma só palavra sobre mim. Uma folha em branco é o que diria ao mundo, e talvez rabiscasse desenhos, obscenos ou não. E se não a tivesse amado? O que então?
E se não a tivesse amado cinco verões atrás?

Talvez não escrevesse tanta besteira.