sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Hoje vai chover

Provável que fosse chover.
Melhor levar um guarda chuva, pensei. E levei.
E o trago comigo debaixo deste céu meio nublado –ou meio ensolarado, vulgar discurso de otimistas. E ando nas ruas à espreita, a espera de um pingo que precede a tromba d´água. Ele não vem.
Provável que fosse chover.
Foi o que disse a moça no jornal e toda a gente sabe muito bem que o tempo da metereologia imprecisa ficou pra trás há muito. Hoje as chances são de 99.9% e se erra uma vez em mil é infinitamente improvável que o faça no dia em dez anos que resolvi dar atenção ao que dizia.
Mas ainda não choveu.
Nem um pingo me consola. Nem um cuspe descuidado. Nem a água das plantas do terceiro andar de um prédio. Nem uma merda de passarinho, nada cai do céu.
Provável que fosse chover.
Ela me jurou. Em um tom (in)confidente, disse que chovia na cidade inteira. Mentira deslavada! Inverdade documentada! Inverossímil palpite! Faz-me de tolo com o guarda chuva ainda mais seco que quando saiu de casa. Toma-me por sonso, figura ridícula: debaixo do braço o guarda chuva e nem vestígio no céu do sobrenome deste.
Mas não fica por isso, silenciosa revolta, fico mais dez anos sem vê-la, e mais dez depois disso. Aí quero ver como ficas. Sem a mim e outros tantos traídos, guarda chuvas à postos juntando poeira da rua.

E um leve cutucar no ombro me chama atenção. Vem do alto, não detrás.
Ah! Torrencial chuva...